Não seja um programador ignorante!

Como estamos inseridos no mercado de trabalho de desenvolvimento de software, é comum encontrarmos profissionais que trabalham com diferentes linguagens de programação. Porém, apesar de compartilharmos da mesma área de atuação, muitas vezes é praticamente impossível levar uma conversa produtiva com alguns destes profissionais. Caros leitores, estou falando dos programadores ignorantes.

Esse artigo é um mero tópico sobre ética profissional, algo que vejo muito ausente na comunidade de programação.

Eu me surpreendo ao observar o tanto de programadores ignorantes que existem por aí. Tomam o próprio conhecimento como verdade absoluta e se veem no direito de criticar qualquer profissional alheio que não faça parte do seu nicho, como, por exemplo, não programa na mesma linguagem.

Quer um exemplo?

Há pouco tempo, conversei com um colega de trabalho que está participando de um grupo de estudos em ASP.NET. Em um dos encontros, alguém fez uma breve menção de uma função existente em PHP, questionando qual seria a equivalência no ASP. Nesse momento, um programador, lá na frente, soltou uma gargalhada e disse:

“Vissshhhh, cara, você programa em PHP? Saí daquela b*sta de linguagem!”

Isso é realmente necessário? O programador ganha alguma coisa difamando a linguagem? No meu ponto de vista, é ignorância pura. PHP, assim como todas as outras linguagens, possui seus pontos fortes e fracos. Programadores sabem disso, mas, mesmo assim, insistem em criticar. A sorte é que o programador PHP não se ofendeu (ou seja, comportou-se como profissional), senão, o grupo de estudos se transformaria em um campo de batalha.

Oras, se um programador não teve uma boa experiência com a linguagem, ou simplesmente não se identificou com a sintaxe, estrutura, ou até mesmo a IDE, tudo bem, siga em frente. Isso não significa necessariamente que todos os outros programadores compartilham da mesma opinião. Talvez, o que você não conseguiu fazer com a linguagem pode ser resultado da falta de conhecimento ou falta de tentativas. Então, por favor, não me venha criticando a linguagem só porque não foi capaz de compreendê-la.

Consigo notar a mesma ignorância nos comentários postados em artigos na internet e redes sociais. No Facebook, há uma página chamada “Bugginho Developer” que faz várias sátiras sobre linguagens de programação, e até me divirto muito com elas. Porém, dedique um tempo para visitar a página e leia os comentários de cada publicação. É uma ignorância atrás da outra. Sério, é impressionante como os programadores “se dóem” quando debocham da linguagem que programam, como se fosse uma religião, ou como se alertassem: “Mexeu com a linguagem que eu programo, mexeu comigo!”. Fiz questão de copiar um dos comentários como exemplo:

“Eu programo na linguagem […], e não tem nada a ver essa brincadeira idiota. Isso pra mim é coisa de moleque querendo likes.”

Por favor, me poupem…

Algumas vezes zombaram do Delphi, que é a linguagem que eu programo atualmente. Vocês acham que isso me deixa irritado? Fere a minha alma? Claro que não! É só uma brincadeira! Isso não vai diminuir o meu conhecimento, roubar o meu emprego ou me expulsar do mercado de trabalho. Pensar assim é ignorância!

Eventualmente, ouço dizer que “Delphi está morto”, “Delphi é linguagem para iniciantes” ou perguntando se “Delphi ainda existe”, mas não me sinto ofendido. Eu desempenho o meu trabalho com profissionalismo e sou capaz de aprender uma nova linguagem, caso seja necessário. Não há problema nisso.

É fato que algumas linguagens fornecem recursos que não existem em outras. Em contrapartida, essas outras linguagens podem disponibilizar alguns diferenciais positivos quando comparadas com as primeiras. Tal comparação, em nenhum momento, irá definir um programador como bom ou ruim. São diferentes linguagens, diferentes segmentos e diferentes projetos. Portanto, programadores ignorantes, aprendam a controlar esse fanatismo parvo.

Programar em uma linguagem também é questão de preferência. Tome como exemplo a briga estúpida sobre automóveis. Já ouvi dizerem: “Hyundai é uma porcaria. Melhor marca de carros é a Honda!”. É muita ignorância! Amigos, se vou escolher um automóvel, coloco inúmeros aspectos particulares em pauta, como a minha prioridade de conforto, o meu estilo, o meu gosto visual e as características que eu procuro em um carro. Então, de uma vez por todas, coloquem isso em suas mentes: O que é bom para você, pode não ser bom para mim.

Quando eu estava no curso técnico, um dos meus professores programava em Clipper e atendia vários clientes. Eu sempre ficava com um “pé atrás” em relação a essas linguagens que eu julgava “antigas”, já que eram baseadas em DOS e não forneciam suporte nativo para uso do mouse. Erro meu. Ao ver o sistema em produção, fiquei impressionado com a usabilidade, agilidade e segurança das aplicações. Ah, claro, e com a satisfação dos clientes. Talvez, uma aplicação toda “bonitinha”, com vários recursos visuais, não proporcionaria a mesma produtividade.

A partir desse dia, aprendi que linguagem de programação é apenas uma ferramenta. O que conta mesmo é a criatividade e o profissionalismo.

Eu, particularmente, sou muito imparcial quanto a linguagens de programação. Não critico, não defendo e não digo qual é a melhor. Tenho bom senso e sei que cada um programa na linguagem que mais se identifica.

Enfim, independente da linguagem que programa, para mim, não deixa de ser um programador, portanto, não deixa de fazer parte da minha área de atuação.

Para fechar, quando eu ouço um programador ignorante falando, procuro interpretar como no vídeo abaixo:

Hahaha!
Até o próxima semana, leitores!
Abraço!

Publicado originalmente em Blog André Celestino

André Celestino

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Desenvolvedor de software há 7 anos e autor do blog AndreCelestino.com. Graduado em Sistemas de Informação e pós-graduado em Engenharia e Arquitetura de Software com ênfase em Desenvolvimento Ágil. Atualmente trabalha como Engenheiro de Software.


17 Comentários

Marcos Aurelio
1

Muito bom, infelizmente na nossa área de modo geral existe muito ego. Teve um tempo que eu era assim, buscava saber qual era a melhor linguagem e com o tempo descobri que todas faz as mesmas coisas de modo diferente, o que faço em ASP faço em PHP, o que faço em Delphi faço em VB.Net ou C#.
Posso estar enganado, mas isso que aprendi e percebi com minha experiencia em meu hobby preferido: programar. 😀

André Luis Celestino
3

@Marcos, falou tudo!
Eu também sou apaixonado por programação e me coloco à disposição para aprender e trabalhar com novas linguagens. Acredito que cada linguagem possui características únicas, dispensando comparações.
@Christian, obrigado!

Saulo
4

Penso o seguinte, na área de TI infelizmente não podemos ficar se limitando a aprender uma coisa ou outra de determinado assunto. A nossa realidade é aprender tudo que o que for possível e estudar até não aguentar mais, porque as propostas de emprego estão cada vez mais exigentes. Muitas empresas parecem que não sabem o tipo de profissional que realmente querem e procuram alguém multifuncional difícil de achar. É só olhar os diversos requisitos que as empresas pedem para uma proposta de emprego e que não tem como aprender rapidamente.

Yuri Jivago
5

Parabéns! Palavras muito bem aplicadas. Não adianta nada esse “xiitismo”, afinal de contas, já pensou se o dito profissional trabalha em uma empresa e a mesma for forçada a trabalhar com uma determinada linguagem/tecnologia? Vai pedir pra sair? E se ele utiliza soluções proprietárias e recebe um projeto que tem como requisito utilizar algo livre, vai perder a oportunidade? Ele vai poder usar qualquer discurso, menos que Ele é profissional!!!

Marcelo
6

Nada de mais a acrescentar ..
Essa preferência por linguagem A, B, C já é coisa antiga, foi mencionado o clipper,
o clipper já foi a linguagem mais usada no mercado, assim como outras como
Cobol que perdurou.
A cada linguagem nova que aparece no mercado,
vejo o perfil dos problemas se adaptando a web.
Antigamente falava-se em processamento de dados.
Ok, “isto é coisa do passado”, porém vejo algo
se moldando aos novos problemas do mercado.
A Informação se quadriplica a casa trimestre.
Com esse volume aumentando, aumenta também
a complexidade destes dados.
Hoje fala-se em Analista de dados
(aquele cara que “verifica do que você está falando, antes de te dar uma resposta”).
O mercado de linguagens está acompanhando esta
evolução, a informação é o grande “ouro do século 21”,
lidar com tanta é a grande questão do momento.
Enquanto não descobrimos esta mina de ouro,
discutamos sobre as “picuinhas” de linguagem.

André Luis Celestino
7

@Saulo, concordo com você. Hoje o mercado de trabalho está exigindo que um programador tenha experiência em, no mínimo, duas linguagens, além de outras habilidades, como inglês técnico, conhecimento em frameworks e requisitos comportamentais. O nosso maior desafio é nos manter atualizados com os novos conceitos e práticas que surgem constantemente.
@Yuri, gostei MUITO do seu comentário! Merecia ser adicionado ao artigo! Parabéns!
Enquanto elaborava o artigo, não pensei nesse ponto de vista sobre empresas que migram de tecnologia. Realmente, programadores ignorantes enlouqueceriam com essas mudanças, rsrs.
Como você mencionou, isso também envolve a questão de novas oportunidades. Se um programador sempre manter a cabeça “fechada” para diferentes tecnologias, pode desperdiçar boas chances de crescer profissionalmente.
@Marcelo, concordo que essa discussão já é coisa antiga e deveria deixar de existir. Ao invés de perder tempo com essas comparações, devemos nos preocupar em estar aptos para oferecer soluções cada vez melhores no mercado.
Agradeço a todos pela visita e pelos comentários!
Abraço!

Alexandre magno
8

A classe de programadores são em sua grande maioria formada de pessoas “sabe tudo”. A maioria das comunidades para tirar dúvidas ou pedir ajuda com alguma coisa, sempre o que prevalece são piadinhas e que questões relevantes acabam se perdendo. E como o termo usado no texto , a maioria são mesmo programadores ignorantes.

André Luis Celestino
10

@Alexandre, tem razão. Já deixei de participar de alguns fóruns de programação por causa desse tipo de atitude de alguns programadores. O “sabe tudo”, infelizmente, é um tipinho que eu não consigo suportar.
Obrigado pelo comentário!
@Klay, não estou defendendo meu peixe, pois não programo em PHP. Usei a linguagem apenas como exemplo.

Guilherme Rico
11

Não gostei desse texto, achei hóóóóórivel! hahahahahaha.
Parabéns brother. Ótimo texto e ideia, mostra a realidade do cenário mas acredito eu que a grande maioria só trabalha para o bem da comunidade.
Grande abraço e sucesso!

Naidion Brovedan
12

Boa André! Em resumo é isso aí mesmo. Na minha época de universidade, trabalhava com Powerbuilder. Meu, eu me sentia um alienígena ante meus colegas. Parecia que eu cometia crime durante 8 horas por dia. Creio que quem tenha tido essa experiência de trabalhar em uma linguagem “fora de moda”, acabe aprendendo mais rápido que não é a linguagem que faz o programador. Não faz muito tempo que eu me pressionava em apreender Java, porque todos meu amigos sabiam/estudavam Java. Hoje saí dessa pilha. Acho que o bom mesmo é ter um conhecido profundo em lógica e ter noção de um pouco de tudo. Atualmente trabalho com Delphi, mas sempre estou estudando coisas novas. Ótimo texto, parabéns!

André Luis Celestino
13

@Guilherme, hahahaha! Rapaz, fiquei feliz de receber um comentário de alguém que estudou comigo na faculdade! Pois é, meu caro, também espero que boa parte dos programadores tenham bom senso e realmente saibam contribuir para a comunidade!
@Naidion, ótimo comentário! Gostei bastante da frase: “não é a linguagem que faz o programador”. Bem colocado!
Há alguns anos eu também entrei nessa fase de querer aprender as “linguagens populares” do momento, mas logo notei que isso prejudicaria a minha produtividade. Hoje também trabalho com Delphi e tomei a decisão de focar os meus estudos em práticas consolidadas de programação, como Design Patterns e princípios da Engenharia de Software.
Abraços, pessoal!

Fábio Cabral
14

Olá amigo, o texto é de muito boa percepção e intenção…. mas salvo um pequeno detalhe:
– em todas as áreas de atuação existem profissionais e profissionais (bons, ruins, egocêntricos, de equipe, e todo perfil que conhecemos), não é um “privilégio” de TI esse perfil.
E existem 2 grandes fatores prejudiciais a àrea (ao meu modo de entender):
1 – Nossa profissão não é “regulamentada”, para atuar você não precisa de comprovar seu conhecimento, não existe um Conselho (como CRM, CREFI, OAB, CRO e etc). Então, qualquer um entra na área com um Livro, então ele não tem base nem para discutir sobre “tecnologias”, e obviamente, defenderá sempre seu peixe.
2 – Não existe um CÓDIGO de ÉTICA na área. Nem com profissionais, nem com empresas. Isso só faz com que a área se torne cada vez mais “pré-histórica”. Um exemplo disso é: um PROFISSIONAL não pode ser contratado para ser PROGRAMADOR DELPHI, e também HTML, CSS, JAVASCRIPT e fazer DESIGNS com o Photoshop. Se houvesse um código na área, NENHUM PROFISSIONAL ACEITARIA. Logo, estariamos valorizando a área. Ou vocês conhecem:
Um Ortopedista, que também faz cirugias do coração e fisioterapia?
Um Advogado que atua com Direito Penal e Direito Tributário?
Um açougueiro que abate o boi, limpe e fatie, e também pese para o consumidor final?
Um caminhoneiro, que dirige ônibus com passageiros?
Um vendedor de peças de carros, que também venda composições químicas?
Abraços!

Carlos
15

Amigo, gostei do seu texto, porém só não entendi uma coisa… Primeiro você diz que o cara que zombou com PHP quase estragou o evento e tal, mas no meio do texto você cita que rapaz que ficou irritado por zombarem de sua linguagem favorita e diz que ele deveria “levar na brincadeira”. Me desculpe, porém não entendi seu ponto de vista, uma hora você diz que tem que respeitar e mesmo se for uma brincadeira cada um tem seu gosto, outra hora você incentiva as brincadeiras, ou zoações e afirma que as pessoas tem que saber aceitar.
Texto muito bom, porém ficou em dúvida sobre o ponto de vista que você quis apresentar no artigo.
Abraço.

André Luis Celestino
16

Olá, @Fabio!
Exato. Profissionais “ignorantes” não existem apenas na área de TI, porém, como você disse, a falta de um órgão regulamentador acentua essa ignorância neste setor. Na verdade, também considero que empresas que exigem conhecimento em dezenas de linguagens para uma única vaga são ignorantes, principalmente quando ainda oferecem um salário muito abaixo do piso.
Obrigado pelo comentário!

André Luis Celestino
17

Olá, @Carlos.
Desculpe-me, mas em nenhum momento no artigo eu incentivo as “brincadeiras”. Apenas afirmo que elas não devem ser consideradas como ofensas, a tal ponto de criar discussões caóticas para defender a linguagem.
O intuito do artigo é apresentar os dois lados de programadores ignorantes: quem fala e quem escuta. O primeiro por zombar de linguagens “alheias”, e o segundo por se atormentar ao ouvir uma crítica ou sátira da linguagem que programa.
Como ressaltei no artigo, e volto a repetir, programadores profissionais compreendem que a linguagem é apenas um instrumento, portanto, não fazem críticas, como também não se importam o que ouvem.
Abraço!

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