Educação: ensino precisa passar por renovação urgente!

Nos últimos meses venho debatendo e colocando à prova que o atual método de ensino precisa passar por uma renovação. Afinal, por que a evasão das salas de aulas tem aumentado tanto? Não se trata de uma única razão, mas um conjunto de fatores que tornaram o ensino desinteressante.

A escola não forma um profissional

Infelizmente é uma constatação. A escola forma verdadeiros “fazedores de lição” que repetem o que é jogado no quadro como se fossem papagaios. Alunos do Ensino Fundamental e Médio formados pela rede pública se formam sem nenhum preparo para o mercado de trabalho. Não há uma preocupação em direcionar a criança e o adolescente para uma carreira e o resultado é catastrófico. Milhares de jovens formados, simplesmente não têm ideia do que gostariam de fazer. As carreiras continuam sendo as mesmas procuradas a décadas porque a escola não abre os horizontes do aluno. Este é um dos principais fatores geradores do descrédito do ensino e, consequentemente, pelo aumento da evasão escolar. A grande queixa é:

Vou empatar meu tempo em algo que não me serve para nada.

Como se as disciplinas convencionais não fossem importantes e isto não é verdade.

Imagem via Shutterstock

Imagem via Shutterstock

Foco e direcionamento do ensino

As disciplinas convencionais são imprescindíveis para o aprendizado completo do ser humano, mas falta dar um direcionamento, um foco, um objetivo para cada disciplina oferecida.

Hoje as disciplinas são apresentadas aos alunos de maneira compulsória, quando seria mais atraente para o aprendizado demonstrar onde cada ponto pode ser aplicado, estimulando a percepção e até a curiosidade do aluno em aplicar os novos conhecimentos nas mais diversas profissões.

As Leis da Física são necessárias para criar os melhores jogos de videogames

Certamente esta informação tornaria as aulas de Física mais interessantes para os alunos que começam a estudar fórmulas e mais fórmulas sem sequer saber para que estão aprendendo a calcular. A velocidade de um passarinho de 200 gramas arremessado a uma altura de 100 metros em um ângulo de 45 graus sob a força da gravidade da Terra faz com que ele caia a uma distância a ser calculada por estas fórmulas. Se este mesmo passarinho for arremessado em Marte, a distância atingida seria diferente e calculada pelas mesmas fórmulas. Alguém reconhece este jogo? Preciso falar mais a respeito de como a gamefication pode ajudar no ensino de tudo?

Gamification é o processo que utiliza conceitos e tecnologias de jogos para atrair, reter e aumentar o uso de um site ou de um serviço. Tipicamente, a ideia é incentivar os membros a participarem de desafios ou tarefas especialmente projetadas, para que tenham o comportamento desejado. Ao participarem de forma satisfatória, conquistam pontos ou atingem um determinado status.

Angry Birds é um exemplo de jogo que aplica as leis da Física

Angry Birds é um exemplo de jogo que aplica as leis da Física

Então, quando pedirmos ao aluno para atingir os porquinhos arremessando um dos passarinhos, estamos, indiretamente, fazendo com que o aluno aplique as fórmulas para alcançar um objetivo e marcar pontos!

Percebam como o ensino da Física está sendo dado de uma maneira aplicada e completamente direcionada aos interesses do aluno, tornando o aprendizado mais agradável, divertido e natural. Sem dúvida, o professor que souber trabalhar aplicando esta metodologia terá resultados mais eficientes com os alunos que, por sua vez, desenvolverão um interesse espontâneo pelo aprendizado da disciplina.

Sugiro a leitura do artigo Reeducação Lógica para melhor compreensão.

Reciclagem dos educadores

Aplicar novas metodologias e conceitos ao atual modelo de ensino requer mais do que tecnologia. É preciso reciclar os educadores para que estejam aptos a interagir com os alunos através de uma nova didática. Tudo o que conhecemos mudou nas últimas décadas e fica fácil perceber isso ao observar as crianças desta geração e comparar com as gerações anteriores.

Um exemplo muito simples é comparar as últimas quatro gerações. Vamos lá…

  • Meus avós sequer entendiam com clareza o uso da tecnologia.
  • Meus pais compreendiam a importância da tecnologia, tanto que me influenciaram a estudar informática.
  • Eu não só tenho fluência no manuseio da informática como sou profissional da área.
  • Minha filha lida com smartphone, tablet, MP4, e-mails, jogos eletrônicos, redes sociais e fala com muita naturalidade sobre estas questões desde que aprendeu a falar, praticamente.

Adivinhem como serão as próximas gerações… Mais íntimas da tecnologia e mais cedo! Notem que a tecnologia passa a ser algo tão natural que a maneira como pensamos sobre determinadas coisas mudou e sequer nos demos conta disso!

Portanto, se este pensamento e a maneira de lidar com a tecnologia em nossas vidas mudou, significa que nos tornamos mais produtivos, conectados, exigentes… Assim como os alunos também não poderiam ser diferentes. Estão cada vez mais exigentes, com poder cognitivo mais apurado e precisando de desafios maiores na escola que se justifiquem.

Melhor remuneração e fidelização do professor

Desde que comecei a lecionar não pude deixar de notar a quantidade de instituições que um professor chega a trabalhar. Isso acaba acontecendo porque a instituição não oferece uma quantidade de aulas suficientes para que o professor consiga uma estabilidade financeira.

O resultado é o desgaste e perda de tempo do professor no deslocamento entre as instituições, além de comprometer o rendimento dentro das salas de aulas. Infelizmente, alguns professores largam a turma mais cedo para ter tempo hábil de chegar no horário em outra instituição. Quem sofre com isso são os alunos que acabam perdendo este tempo sem o devido acompanhamento do professor.

Isso acontece porque a remuneração é baixa e fidelizar o professor não parece ser uma prioridade da maior parte das instituições (dedicação exclusiva). Contudo, a remuneração de um professor do Ensino Médio não é das piores, chegando a quase 20 reais / hora aula. Ainda existem algumas considerações a serem feitas como um percentual a mais para cobrir o tempo gasto fora da sala de aula para elaboração de material, correções de provas, lançamento de frequência e notas. Outro ponto positivo é a qualidade de vida, onde o professor usufrui de um recesso e férias todo ano. Claro que professor trabalha muito mais do que o período nas salas de aula. As atividades levadas para casa são muitas e, dependendo da didática do professor, 1 hora de aula pode representar até 2 horas de trabalho fora da sala.

Sendo assim, é impossível comparar a remuneração de um professor com qualquer outra profissão no mercado de trabalho. Infelizmente isso faz com que poucas pessoas pensem em dedicar seu tempo a lecionar e ser professor acaba se tornando um trabalho de renda complementar (bico). Se é um trabalho para renda complementar, então não é a principal atividade e, consequentemente, não terá a dedicação devida.

Professores melhores remunerados e com segurança dentro de uma única instituição é o primeiro passo para pensarmos em melhorar metodologias, didática e reciclagem dos educadores.

Professor com experiência de mercado

Está ligado ao assunto abordado anteriormente, sendo o item de maior relevância dentro do trabalho que venho realizando.

O melhor professor é aquele que tem maior bagagem a oferecer no preparo dos alunos, principalmente para enfrentar o mercado de trabalho. Professores de disciplinas da grade curricular padrão (língua portuguesa, matemática, física, geografia, história, química, etc…) bastam passar pela reciclagem didática e estarão aptos a continuar oferecendo todo conteúdo com melhor qualidade e dentro dos moldes que conversamos em Foco e direcionamento do ensino.

No entanto, professores de disciplinas técnicas precisam oferecer conteúdo atualizado e alinhado com o mercado de trabalho atual. Não adianta querer ensinar apenas o que aprendeu na universidade. Por este motivo eu aposto muito no professor que vem do mercado de trabalho com muita bagagem para repassar aos seus alunos. Eu trabalhei por mais de 20 anos no mercado de tecnologia da informação, desde programador, analista de sistemas, analista de negócios, gestor de projetos e, nos últimos anos, gestor de TI, antes de tomar a decisão de lecionar. O resultado nas salas de aulas são surpreendentes, mantendo os alunos interessados e focados no aprendizado o tempo todo. Falar sobre assuntos que domino amplamente e poder compartilhar com meus alunos é tão bom que as extensas aulas do Pronatec passam rapidamente e, por muitas vezes, passamos do horário continuando o assunto que aguçou a curiosidade dos alunos. O melhor de tudo é ouvir dos próprios alunos a proposta de umas aulas extras, além da grade curricular.

Steve Jobs em discurso memorável em Stanford - EUA

Steve Jobs em discurso memorável em Stanford – EUA

O trabalho de um professor técnico vai além da sala de aula, recomendando blogs, comunidades interessantes, compartilhando artigos, encaminhando para cursos relevantes e preparando o aluno para encarar as dificuldades do mercado de trabalho. Acima de tudo, fazer com que o aluno viva a experiência e dificuldades dentro da sala de aula para que sua estreia não seja no primeiro emprego.

Resumindo, dentro da sala de aula o que conta é a experiência a ser passada com segurança. Imaginem o nível das aulas se tivéssemos estes profissionais experientes lecionando disciplinas técnicas. Juízes, advogados, dentistas, engenheiros, gestores, analistas, programadores e todas as demais áreas com seus profissionais dedicando parte do seu tempo para lecionar. Imaginem o nível de profissionais que estaríamos formando e que, com o passar do tempo, estes novos profissionais também dedicariam parte do seu tempo para lecionar, gerando uma corrente positiva para todos nós e para o desenvolvimento contínuo de todo o país.

Se tantas correntes inúteis acabam se tornando virais, que mal haveria se esta corrente prosperasse?

Fonte: Blog Andrey Kurka

Andrey G Santos

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Executivo com mais de 20 anos de experiência em tecnologia e negócios, considerando desenvolvimento de sistemas, arquitetura, infraestrutura tecnológica, operações e suporte, com carreira desenvolvida em empresas dos segmentos: Atacado, Varejo, Logística, Seguros e Telecomunicações.


12 Comentários

Fábio Torres
3

Sou professor de Informática também em uma cidade do sudeste do Pará e concordo com algumas de suas observações, no entanto, você não estaria se contradizendo quando diz que os profissionais devem vir do mercado de trabalho e eles “também” deve trabalhar em uma só instituição de ensino? Como os profissionais que trabalham em somente uma instituição de ensino conseguiriam se atualizar dentro, somente, desta instituição?

Andrey G Santos
4

Fábio Torres,
Quando digo que os professores devem vir do mercado de trabalho para lecionar, me refiro a profissionais experientes que já tenham alcançado seus objetivos na carreira. Estes profissionais (digo isso por mim) passam constantemente por cursos de atualização, pós-graduação e estão alinhados com a realidade do mercado de trabalho.
Em outras palavras, chega um determinado momento que este profissional experiente pode passar a lecionar e se dedicar exclusivamente à docência. A continuidade das atualizações dentro da vida acadêmica é algo natural. Nenhum professor deve pensar que, por mais experiente que seja, sabe de tudo. Eu mesmo, tenho 20 anos de carreira e larguei tudo para lecionar. Uso as férias e recessos para fazer cursos e me atualizar em assuntos que são importantes para as disciplinas que leciono. Junto com toda experiência de mercado que adquiri nesses 20 anos, levo conhecimentos técnicos atualizados aos alunos e isso torna a aula mais interessante. Vejo alunos que passaram a gostar realmente das aulas, fazerem vídeos e áudios destas aulas para aproveitar melhor todo conteúdo.
A remuneração é muito aquém do que eu tinha como Gestor de TI, mas confesso que me cansei de trabalhar para encher o bolso de empresários. Acredito que cumpri o meu papel como consultor e agora estou desempenhando meu papel social. Não é de graça, lógico, afinal, preciso me manter. Não descarto a possibilidade de atividades extras como palestras, onde tiro uma renda complementar e, ao mesmo tempo, propago meus conhecimentos adquiridos. Palestras estas que levo gratuitamente para universidades, quando me solicitam. Mas nenhuma atividade concorre com minha dedicação nas salas de aulas. Meus alunos acabam recebendo, inclusive, todo o conteúdo das palestras diluído no dia a dia das aulas.
Para concluir e esclarecer sua colocação, acredito que o melhor seja a dedicação exclusiva do professor (para lecionar). As atualizações não precisam ser, necessariamente, na mesma instituição. Hoje mesmo estou fazendo um curso fora de onde dou aula, durante o recesso.

Alves
5

Infelizmente, hoje a escola pública virou lugar de doutrinação. Não se ensina mais ciência, mas sim ideologias.
Outro ponto é a tão aclamada escola em tempo integral, o aluno fica mais tempo na escola, mas não para ter contato com ciência, tecnologia, prática de laboratório, trabalho de campo etc. Mas, sim para ter aulas de Capoeira, Olodum, Crochê, tricô, futebol, danças, não que sejam atividades descartáveis, entretanto, acredito que o estudo da ciência deve primordial.

Andrey G Santos
6

Quando uma escola abre o curso integral, existe uma grade básica a ser cumprida que é exigida pelo MEC. Outras disciplinas são oferecidas de acordo com a proposta da escola.
Não vejo mal algum em ensinar atividades como Capoeira, Tricô, Crochê, Danças, enfim, atividades que venham complementar os conhecimentos culturais da criança. Mas não pode se limitar a isto!
Disciplinas técnicas precisam ser oferecidas preparar o aluno para as diversas carreiras que ele pode seguir. A função da escola em período integral é esclarecer o aluno e ajudar para que ele seja direcionado para uma carreira que tenha afinidade, formando os futuros profissionais.

Fabricio Silva
7

Parabéns Andrey pelo artigo, a questão de reciclar os professores e suas metodologias é uma questão que também me intriga, pois vejo cada dia mais os alunos ficarem cada vez mais desinteressados.
Frequentemente na escola onde leciono buscamos diversas alternativas para procurar atrair a atenção dos alunos através do uso de tecnologias como também de outros métodos, porque concorrer com as redes sócias em busca de atenção é quase considerada uma guerra.

Andrey G Santos
8

Obrigado Fabricio.
É preciso tornar as redes sociais nossas aliadas. Hoje eu trabalho com os alunos questões da sala de aula nas redes sociais. Utilizo Twitter, Facebook, Instagram e demais canais para estimular o uso das redes em benefício dos estudos.
É preciso disseminar estas didáticas entre os professores e isto faz parte da reciclagem! O trabalho que venho fazendo tem mostrado resultados muito positivos em todas as faixas etárias, então acredito que o caminho seja este. Tenho alunos que, inicialmente, não tinham perfil de programadores e hoje, em 6 meses de curso já estão programando em Java com muito interesse. Despertar esta sensação de desafio é o segredo e depois disso, o aluno tende a buscar cada vez mais informações sobre o assunto.

Marcos Arley
9

Andrey, primeiramente boa tarde:
Como já enunciei em outro artigo, o grande culpado por isso é o MEC, que é falido, pensa de modo retrógrado e atrasado, influenciado diretamente por todos os nossos governantes dos últimos 30 ou 35 anos passados ou mais. Infelizmente eles pensam neles mesmos e usam a educação como massa de manobra e alienação do povo, pois sem instrução, fica muito mais fácil alienar e dominar as pessoas. Hoje percebo que aumenta a quantidade de tempo de ensino e de profissionais que se graduam e tem uma profissionalização com mais tempo, mas por outro lado, a qualidade é baixa dos mesmos. Não é de se admirar que um profissional de redes não saiba crimpar um cabo por exemplo ou endereçar um IP por exemplo! Eu mesmo corri esse risco, mas consegui reverter essa péssima estatística a meu favor. Digo que o MEC é o grande responsável, porque é ele quem regula o funcionamento do sistema educacional brasileiro desde o fundamental. Para endossar o que estou dizendo desde o primeiro parágrafo, não é por acaso que existe SARESP, ENADE e outros exames estaduais e nacionais para “mensurar” o nível educacional, mas na realidade, não mensura nada, porque 100 porcento das lições aprendidas na escola, desde o primeiro ano é pura “decoreba”. Bem verdade que muitas das lições são úteis e importantes, mas aplicadas de forma pouco didática, o que desestimula o aluno a buscar e aprender, não estimula nada na mente de ninguém, mas eles querem isso para nos usar. Fiquem espertos!
Sem mais!

Camilla Santos
10

Andrey, bom dia!
Primeiramente parabéns pelo texto!
Gostaria de saber se como engenheira eu posso dar aulas na rede pública de São Paulo ou primeiramente preciso fazer um curso de licenciatura?
Desde já muito obrigada pela atenção!

Andrey G Santos
11

Obrigado Camilla,
Depende… Se for alguma matéria técnica, não há necessidade de licenciatura. Caso queira lecionar alguma disciplina do curso regular, será necessário fazer a licenciatura, principalmente se for na rede pública.

Eliandro Alves de Oliveira
12

Realmente a educação precisa repensar seus métodos, mas categorizar como problema exclusivo da rede pública de ensino é uma afirmação prepotente. O seu artigo não apresenta um dado concreto sobre a ineficácia da educação pública.

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