Apresentações em PowerPoint: friend or foe?

 

Há alguns meses, levantei no meu blog um post sobre o uso de PowerPoint em apresentações e nas universidades. Vejam em https://www.ibm.com/developerworks/mydeveloperworks/blogs/ctaurion/tags/powerpoint.

De lá para cá com dezenas de novas apresentações feitas e muitas outras vistas, volto hoje com alguns novos insights, que quero compartilhar com vocês. O assunto merece ser discutido mais exaustivamente. Continuo questionando se os slides em PowerPoint são realmente a melhor forma de transmitir conhecimentos e idéias… Seu uso está tão arraigado que  praticamente não apresentamos nenhuma ideia se não tivermos um conjunto de slides desenhados em PP e exibidos em uma tela na parede. Algumas estimativas apontam que a sociedade gera e exibe trilhões de slides PP a cada ano!

Por um lado, fazer slides em PP é muito fácil. Talvez esteja aí um dos problemas: é fácil demais… E é fácil fazer as coisas erradas. Cai-se na tentação de fazermos slides que se tornam verdadeiras obras de arte, com bonitos efeitos visuais, mas sem conteúdo.

O nome original do PowerPoint era Presenter, que descreve exatamente para o que ele foi escrito: fazer apresentações. Não para dar aulas. É ótimo para uma apresentação de vendas, mas dificilmente gera uma boa aula. O fluxo de informações em uma apresentação PP é one way, do apresentador para a audiência. Não existe espaço para interatividade.

Claro que muitas vezes esta linearidade é positiva: uma apresentação de vendas. Os objetivos destas apresentações são claras: mostrar uma idéia, e persuadir a platéia que a idéia é boa, sem deixar margem para maiores questionamentos. Questionamentos atrapalham o ciclo de vendas… Mas, em aulas é terrível. Uma aula linear, sem interatividade? Uma aula em PP dificilmente ajuda os estudantes a pensarem por si mesmos. Eles ouvem passivamente o que é falado e visualizado na tela. O modelo de apresentação PP impõe a lógica e a organização de idéias do apresentador, que não necessariamente serão as mesmas dos alunos. Esta imposição é prejudicial ao processo de aprendizado. Não tenho dados científicos para comprovar minha intuição, mas assistir passivamente uma aula em PP deve gerar a mesma intensidade elétrica no cérebro que a gerada quando assistimos a um programa banal na TV.

Também por ser fácil, temos outro problema do mau uso PP: excesso de slides. É fácil ceder a tentação de fazer mais uma figura, colocar mais textos explicativos. Aliás, muitas vezes estes textos estão lá principalmente para ajudar o palestrante e não para a platéia lê-lo. Alguém que vê durante uma hora e meia uma apresentação com dezenas de slides cheios de figuras que se movem  e com textos e mais textos, dificilmente conseguirá absorver seu conteúdo. Temos uma capacidade limitada de absorver informações e se excedermos esta capacidade o excesso será apenas ruído…O ruído aparece pelo numero excessivo de slides ou pelo excesso de textos em um slide.

Um teste fácil para sabermos se o conteúdo da apresentação é relevante é quando no meio da palestra as pessoas saem para atender ao celular. Voltam alguns slides depois e continuam prestando atenção. Ou pelo menos demonstram estar prestando atenção….Ora, se houvesse conteúdo importante e que sua falta prejudicasse a continuidade da absorção do conhecimento, ele simplesmente não conseguiria mais prestar atenção. Se o que ele perdeu foi irrelevante, ele pode continuar sentado e ver os demais slides como se não tivesse perdido nada.

Outro mau uso é o excessivo numero de bullets ou frases curtas que pretendem passar as idéias principais. Tem um case interessante que foi a investigação feita pela NASA do acidente que vitimou um space shuttle. A investigação apontou como um dos culpados a apresentação em PP feita pelos especialistas da NASA para descrever a situação e definir os procedimentos de emergência. O excesso de bullets aninhados acabou fazendo com que as causas principais não fossem devidamente destacadas e identificadas, e a tragédia acabou acontecendo.

E uma do piores vícios das apresentações PP é o apresentador ler o texto dos slides. Ou ele não domina o assunto e está lendo para não ficar em um silencio incômodo ou ele acredita que a platéia é constituída de analfabetos que não sabem ler. Jogo de cores inadequadas é outro erro comum. Vemos as vezes combinações que parecem fruto de daltonismo, porque as cores não combinam umas com as outras.

Enfim, mostrar muitos slides não vai transformar uma má apresentação em boa e não vai transformar um mau apresentador em um bom apresentador. O PP é auxiliar da palestra e não o seu cerne. As idéias e a organização da apresentação é que fazem que a palestra seja boa ou ruim. E, para aulas, ainda tenho muitas desconfianças se o PP não deveria ser limitado ao mínimo necessário…Então, temos muito o que debater!

Cezar Taurion

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Gerente de Novas Tecnologias Aplicadas/Technical Evangelist da IBM Brasil, é um profissional e estudioso de Tecnologia da Informação desde fins da década de 70. Com educação formal diversificada, em Economia, Ciência da Computação e Marketing de Serviços, e experiência profissional moldada pela passagem em empresas de porte mundial, Taurion tem participado ativamente de casos reais das mais diversas características e complexidades tanto no Brasil como no exterior, sempre buscando compreender e avaliar os impactos das inovações tecnológicas nas organizações e em seus processos de negócio. Escreve constantemente sobre tecnologia da informação em publicações especializadas como Computerwold Brasil, Mundo Java e Linux Magazine, além de apresentar palestras em eventos e conferências de renome. É autor de cinco livros que abordam assuntos como Open Source/Software Livre, Grid Computing, Software Embarcado e Cloud Computing, editados pela Brasport. Mantém o blog http://computingonclouds.wordpress.com/ sobre computação em nuvem.


4 Comentários

Atila Belloquim
1

Taurion, na mosca!
O pior é que o vício já se institucionalizou. Minha esposa, que dava cursos em nível de pós-graduação em uma conceituada escola paulista,sempre recebendo nota 10 de média na avaliação pelos alunos, foi chamada à atenção pela coordenação por “dar aulas sem slides”. Depois, não a chamaram mais. Pode??
E tem mais uma coisa que eu reparei assistindo apresentações, e que me levou a mudar a cara das minhas também: quando os slides contêm muito texto, a gente fica sem saber se lê o slide ou presta atenção no palestrante. Pessoas como eu, que têm zero de paralelismo, acabam não conseguindo fazer direito nem uma coisa nem outra!

Alexandre Franzolim | Monkey Business
2

Concordo com seu ponto de vista, e respondendo a retórica: creio que PP é friend, e não foe. A ferramenta veio para auxiliar, e o seu uso incorreto é a causa da maioria (senão todas) as apresentações onde as pessoas dormem, babam, saem para atender ao celular (ou atendem no meio da apresentação).
Há alguns anos o mercado de apresentações vem crescendo notoriamente, e a Monkey Business é uma dessas agências: focada em apresentações em PowerPoint cujo objetivo é desenvolver apresentações que entretenham e passem a informação necessária objetivamente.
Como você, penso da mesma maneira: muito texto ou aquela poluição de imagens atrapalham muito a apresentação, e usar apresentações assim em universidades não irá ajudar o tanto que deveria, talvez até atrapalhe, por causa do tédio gerado. Quem utiliza apresentações em PowerPoint precisa investir bem, pois é a sua única chance, seu único momento, e você não pode desperdiçar: precisa mandar bem.
Um abraço,

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