Redes Sociais e a colaboração extrema: O fim do senso crítico?

Conectados. Essa palavra nunca fez tanto sentido quanto agora. Quando se discutia no passado sobre como os homens agiriam com o advento da aldeia global, termo cunhado pelo filósofo canadense Marshall McLuhan para explicar o projeto pelo qual o mundo se tornaria um lugar culturalmente semelhante graças ao impacto da tecnologia, não se imaginava o quanto esse processo seria rápido e devastador – e o quanto ele estava errado sobre o seu meio propagador. Isso porque quando McLuhan apresentou o termo, em 1968, ele sequer imaginaria que não seria a televisão a grande responsável pela interligação mundial absoluta, e sim a internet, que na época não passava de um projeto militar do governo dos Estados Unidos.

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A internet mudou definitivamente a maneira como nos comunicamos e percebemos o mundo. Graças a isso temos acesso a toda informação do mundo à distância de apenas um toque de botão. E quando começou a se popularizar as Redes Sociais, um admirável mundo novo abriu-se ante nossos olhos. Uma ferramenta colaborativa extrema, que possibilitaria contato imediato com outras pessoas através de suas afinidades, fossem elas políticas, religiosas ou mesmo geográficas. Projetos colaborativos, revoluções instantâneas… Tudo seria maior e melhor quando as pessoas se alinhassem na órbita de seus ideais. O tempo passou, e a revolução não se instaurou.

Basta observar as figuras que surgem nos sites de humor e outros assemelhados. Conhecidos como Memes (termo cunhado pelo pesquisador Richard Dawkins, que representaria para nossa memória o mesmo que os genes representam para o corpo, ou seja, uma parcela mínima de informação), essas figuras surgiram com a intenção de demonstrar, de maneira icônica, algum sentimento ou sensação. Ao fazer isso, a tendência é cada vez menos ter uma reação diversa daquelas expressas pelas tirinhas. Tudo fica branco e preto. Ou se aceita a situação, ou revolta-se. Sem chance para o debate ou questionamento. Os vídeos de humor então se transformaram na ferramenta predileta para arrancar risos fáceis e instantâneos. Na Internet não há mais espaço para o humor cadenciado de Jerry Lewis, ou o pastelão escachado dos Três Patetas. Exigem-se risos em menos de um minuto. A história, o roteiro, o figurino foi deixado de lado e tudo isso foi trocado por um gato tecladista ou um garoto acima do peso que faz alguma gracinha involuntária.

A situação da literatura na Web é ainda pior. Escritores e dramaturgos são citados fora de contexto, isso quando as citações realmente pertencem àqueles a eles atribuídos. Uma profusão de frases soltas de romances, livros de auto-ajuda e toda sorte de produção literária comprimida para fazer sentido dentro dos parcos cento e quarenta caracteres da microblogagem. A situação é ainda mais grave quando um dos poucos entes criativos restantes na Internet produz algum comentário curto, espirituoso ou refletivo, a respeito de alguma situação atual ou recente… Em minutos pipocam cópias da frase por todo lugar. Copia-se sem o menor bom senso, sem créditos. Pensar e refletir, e depois falar são coisas do passado. O importante agora é copiar e colar, e depois compartilhar.

As Redes Sociais desfraldaram um mundo completamente novo, e o uso que homem fará dessas ferramentas é o que ditará o nosso futuro cultural. Se enveredarmos pelo compartilhamento de idéias, gestando-as em nossas mentes e depois as compartilhando, será uma estufa mundial a produzir avanços incríveis em todos os campos de conhecimento. Se, no entanto, a Redes Sociais se transformarem em uma rede neural de apoio à preguiça de pensar, a humanidade estará fadada a processo antinatural de regressão. O advento das Redes Sociais trouxe para perto das pessoas comuns os amigos distantes, os ídolos e os ideais consumistas mais arraigados, mas aparentemente está levando para longe algo muito mais humano e essencial na vida em sociedade: O senso crítico. Será uma troca justa?

Imagem via Shutterstock


2 Comentários

Luciano
1

Belo texto Eugênio, com grandes argumentos… Penso por mim que somente o futuro irá dizer se estaremos realmente perdendo o senso crítico, o que posso dizer com veracidade é que o fator que instaura e cria o senso crítico em uma pessoa é a Educação, a parte a internet talvez possa estar apenas dificultando a absorção do senso, e somando a falta de investimentos em educação pode se dizer que num futuro próximo o senso crítico estava defasado.

Marcos
2

Já percebo que o senso crítico morreu já faz algum tempo. Numa sociedade despreparada, numa geração que cresceu sem educação adequada como tinha a geração de meus pais. Para lembrar, na década de 60 existia Educação Moral e Cívica, OSPB e outras matérias de cunho reflexivo. Hoje, o conteúdo que existe pra isso é muito insipiente, tendo em vista as possibilidades que temos, se comparado a década citada acima. Uso como exemplo a repercussão que deu na decisão jurídica CORRETA de condenar um homem que ofendeu o deputado Jean Willis. Não interessa a opção sexual dele, não importa como ele foi parar lá, como conseguiu a fama, uma coisa é fato. Morreu o respeito, morreu a educação das pessoas e junto deles, já está a 7 palmos também o bom senso. Outro dia, vi um vídeo que me assustei. Duas meninas diziam a seguinte frase:
“Homem que tem din, come vulva
“Homem que não tem, fica na masturbação”
Usei os termos técnicos das partes, porque elas fizeram uso de palavras de baixo calão da qual rimavam, inclusive. A resposta que tinha na sequência era:
Mulher que se valoriza, corre atrás do seu.
Ai eu vos pergunto, essas duas meninas, quem vai valorizar elas se elas não se valorizam? Fica essa pergunta para nossa reflexão
Lembrei dos dois casos para apenas ilustrar como anda nossa sociedade hoje

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