E aí, jogador? A bola está na marca do pênalti. Vai fazer o que com ela?

Não é novidade para ninguém que o futebol é o esporte mais popular em nosso país e, ao mesmo tempo, não podemos negar que, nas nossas jornadas de preparação para participação em concursos públicos, na grande maioria das vezes, não conseguimos sequer escalar parte de nosso time do coração. Isso se dá por um motivo bem simples, temos que aproveitar ao máximo o nosso tempo disponível, ou seja, aquele tempinho que seria dedicado a um acompanhamento mais rigoroso das notícias do esporte e dos jogos, naturalmente, será dedicado para que possamos, de fato, fazer a diferença nos exames. Saberemos a relação completa dos certames nos quais obtivemos bons (e não tão bons assim) resultados, mas não conseguiremos dizer com precisão a relação dos cobradores das penalidades do nosso time e, muito menos, aqueles que são mais eficientes ou os que costumam chutar para longe do gol ou, ainda, “entregar a bola” nas mãos do goleiro.

Concursos públicos podem ser comparados a cobranças das penalidades máximas no futebol. É preciso manter o foco, treinar bastante (e é exatamente esse o verbo que pretendo utilizar: treinar, como remissão a repetir algo e medir os resultados), perceber onde colocamos “a nossa bola” e se ela está com a “pressão correta” (bem calibrada), conferir a “amarração das nossas chuteiras”, testar diferentes “métodos de cobrança”, e por aí vai. Nessa comparação, vamos dizer que nós, aqueles que prestam os concursos públicos, somos os “cobradores de pênaltis”; nossa condição física e psicológica para as “cobranças” são tão importantes quanto esses estados para a realização das provas, nossa “chuteira” é nosso material individual; a “bola”, é aquele material coletivo que não fará mal se dermos uma verificada em sua consistência antes de usar; o “goleiro” é a banca examinadora, suas ideias, suas teorias e seus profissionais (e, diga-se de passagem, existem “bons e maus goleiros” e, mesmo os bons cometem suas falhas); marcar o “gol” é o que queremos fazer, ou seja, queremos ser nomeados nos concursos públicos.

Não é incomum, principalmente quando começamos a encarar o desafio dos concursos, não estarmos bem treinados ou nossa estratégia não ser adequada ou não conseguirmos manter o foco ideal ou ainda, de maneira pragmática, não termos ainda desenvolvidas (seja com base em nossa experiência prévia que trouxemos de nossa faculdade, cursos ou experiências profissionais) as competências necessárias. Nesses momentos, “chutamos algumas bolas para fora do gol e algumas vão parar do lado de fora do estádio”. O “goleiro nem precisa se mexer”. Nós, os “batedores de pênaltis”, questionamos nossa capacidade e colocamos muita coisa em cheque. Esses são exatamente aqueles episódios angustiantes onde sequer figuramos entre os classificados e não nos damos sequer a chance de lograr êxito ao final do certame. E, acreditem, muitos “craques, que já marcaram vários gols, chutam para fora às vezes” (alguém aí se lembra do Baresi, experiente zagueiro, e do Baggio, um dos emblemáticos camisas 10 da história do futebol, ambos da Itália?). “E então, o que fazer?”, perguntamos para nós mesmos. Ora! A resposta é “chutar na direção do gol!”. Simples assim! Simples, sim. Fácil, não. Parece que o gol é tão grande! Não é mesmo? Parece impossível errar “um gol daquele tamanho”! Não é isso que comumente dizemos? É… mas acertar o alvo requer treinamento, repetição, prática, aprendizado, desenvolvimento de novas competências, foco e um pouco de sorte (e quanto mais buscamos nos desenvolver, mais “ajudamos a sorte”).

E quando, enfim, conseguirmos “chutar na direção do gol”, quem estará lá? O “goleiro”. Ele poderá “defender vários pênaltis”. Vejam bem, poderá defender. Observem a figura abaixo:

Em interessante artigo escrito pelo Dr. Ken Bray, autor de How to Score: Science and the Beautiful Game, intitulado How to Take the Perfect Penalty, é afirmado (o que eu e você já sabíamos 🙂 ) que todo goleiro tem um alcance finito. E aí, fatalmente, vamos falar um pouco de probabilidades. Segundo Bray, 50% das penalidades máximas cobradas na direção da área branca (delimitada conforme a figura acima) são defendidas. Podemos considerar esse tipo de cobrança de pênalti, por um lado, como uma evolução se compararmos com os “pênaltis que chutamos para fora” e, por outro lado, como uma oportunidade de melhoria se observarmos que “facilitamos a vida do goleiro”. Essa situação ilustra as classificações que figuram em uma zona de baixa probabilidade de convocação e consequente nomeação. Pode-se dizer, por exemplo, que estamos falando daquele concurso que sabemos que existem chances do órgão convocar, digamos…, os 30 primeiros classificados. Mas, nos classificamos a partir da 50ª ou 60ª posição.

Se não desistirmos após os “chutes para fora” e após as “defesas dos goleiros”, vamos perceber que começaremos a acertar a “zona marcada na cor cinza”, conforme a figura apresentada. É ali, nessa zona cinza que a probabilidade de “defesa” diminui muito e, paralelamente, as possibilidades de “cobranças de penalidades” exitosas aumentam na mesma proporção. Contudo, é preciso alertar que, quanto mais “difícil para o goleiro”, mais “perto da trave a bola passa” (e nossas expectativas por bons resultados ficam elevadas) e são essas “bolas na trave” que devem renovar as nossas energias, elas devem nos transmitir a mensagem de que, muito embora tenhamos ficamos no “quase”, estamos bem (muito bem!) e não fomos nomeados muito mais em função de questões conjunturais (características específicas do concurso, da demanda do órgão no período de validade do processo etc) do que em função de questões estruturais (por exemplo, deficiências essenciais e fundamentais em nossa preparação). Finalmente, por mais que o “goleiro seja bom” e que seja difícil “vencê-lo”, a depender de onde conseguirmos colocar a bola, a esperança por boas notícias torna-se grande.

Aproveitando nossos bons momentos de preparação, começaremos a “chutar” muito mais do que somente na zona pintada de cinza, mas nas áreas pontilhadas (vide figura). Elas representam a “zona ótima para os chutes” (e, por favor, não estamos falando de chutar alternativas para uma questão de prova 🙂 ). Estaremos diante de um estágio de preparação onde o concurso de nossos sonhos se aproxima. E aí, nobre colega, os “gols” certamente vão acontecer e poderemos soltar “aquele grito” de alívio. Comemoraremos com a torcida, com nossos familiares e com nossos amigos!

Amarremos firme as nossas chuteiras e dificultemos a vida dos goleiros! 😉 

Referência: BRAY, Ken. How to Take the Perfect Penalty. Disponível em www.mrporter.com/journal/journal_issue105/8#1, acessado em 02 de junho de 2017.

Maurício Rocha Bastos

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Maurício Rocha Bastos é Mestre em Tecnologia, possui MBA em Gestão Empreendedora, especialização lato sensu em Administração e Supervisão Escolar, especialização lato sensu em Docência do Ensino Superior, licenciatura plena no Programa Especial de Capacitação Pedagógica para Formadores de Educação Profissional e bacharelado em Ciências da Computação. Atualmente, desempenha atividades de governança e gestão de T.I.C na Justiça Federal. Atuou por mais de 5 anos como gestor em centro de tecnologia de empresa nacional de grande porte, após ter atuado como professor no ensino superior por 4 anos. Desenvolveu, durante mais de 10 anos, atividades diretamente relacionadas a T.I.C. O trabalho junto a industrias de grande e médio porte, assim como com participantes de programas de capacitação profissional, aperfeiçoou questões como relacionamento interpessoal e de gestão orientada a pessoas. Dentre os norteadores do perfil profissional estão a comunicação e a criatividade; o planejamento e os resultados; o trabalho em equipe e a iniciativa; o cumprimento de prazos e a satisfação do cliente; sem esquecer do constante autodesenvolvimento.


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