Steve Jobs e Darth Vader: Algo em comum?

Em uma das cenas mais emblemáticas da história do cinema, vemos uma sala lotada de homens inteligentes e poderosos, que carregam em suas mãos o poder de mudar muitas vidas. Súbito, abre-se uma porta hi-tech e o ar da sala torna-se mais denso e cadenciadamente silencioso. Lá está ele. Genial, atormentado, poderoso, intolerante. O frágil homem de negro que comanda um império tecnológico.

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Estamos a bordo da mítica nave-planeta “Estrela da Morte”, no maior sucesso de ficção científica em todos os tempos nos cinemas, Star Wars (1977). Apesar disso, a cena acima descrita poderia perfeitamente ter se passado em Palo Alto, Califórnia, em uma das salas de reunião do complexo da Apple. Ao invés do temido vilão Darth Vader, com sua respiração difícil e sua capa negra, a descrição encaixa-se perfeitamente com o fundador da Apple Computer. Temido por seus funcionários e adorado como um gênio visionário por seus colonizados, Steve Jobs foi muitas vezes comparado com o Vilão da ficção. De onde terá surgido esse viés?

George Lucas, através de sua trilogia, apresentou um dos vilões mais inesquecíveis de todos os tempos. Darth Vader transformou-se de tal maneira em um ícone de vilania não pela maldade inerente aos corações de todos aqueles que decidem propagar a tirania e a dor, mas exatamente pelo contrário. Era um vilão humano, atormentado e confuso que buscava no poder uma resposta para seus próprios questionamentos. Antes de se tornar o mais temido comandante do império do mal, ele era o mais talentoso dos Jedis. Tanto talento o fez questionar se as pessoas não seriam limitadas demais para decidirem o melhor para elas mesmas. Não obstante, em uma das entrevistas que Steve Jobs concedeu, ele afirmou: “As pessoas não sabem o que querem, até mostrarmos a elas”.

De onde virá esse casamento bem sucedido entre genialidade e tendências totalitaristas? Vários ex-funcionários da Apple são concisos em afirmar que trabalhar com Steve Jobs era “impossível”, embora ele fosse reconhecido por todos como “genial” e “inspirador”. Na trama de Guerra nas Estrelas, o jovem Anakin Skywalker é seduzido pelo lado negro da força, ao ser convencido que “é muito poderoso para receber ordens”. No filme “Piratas do Vale do Silício” (1999), vemos um jovem Steve Jobs maravilhado com suas descobertas e lutando contra a opressão das grandes empresas. É um jovem visionário que passa horas do dia meditando e fazendo uso de ácido lisérgico. No decorrer da história, vemos o garoto Jobs transformar-se em um homem de negócios austero. Jobs chega a roubar tecnologia (roubar não é o termo, uma vez que a tecnologia foi vendida pelo Xerox, que não via aplicação prática para tal) de concorrentes e mentir para conseguir contratos. Quando vemos Steve Jobs saindo do banco após conseguir seu primeiro empréstimo corporativo, podemos ouvir ao fundo a retumbante “marcha imperial”, que ecoa nas telas sempre que Darth Vader se aproxima. O jovem talentoso foi corrompido.

A história nos mostra que a genialidade e a loucura caminham de mãos dadas. O filósofo e psicólogo americano Willian James escreveu: “Quando um intelecto superior se une a um temperamento psicopático, criam-se as melhores condições para o surgimento daquele tipo de genialidade efetiva que entra para os livros de história”. Quando escreveu a sua ópera espacial, George Lucas estava apenas criando um vilão insanamente genial e obcecado por poder como centenas que já estiveram vivos na terra. Não podemos comparar Jobs com Vader, pois certamente Darth Vader é que foi inspirado em homens obcecados, geniais, insanos e perfeccionistas como Steve Jobs. Uma vez ao menos, a fuga do clichê torna-se possível, e a arte imita a vida.

Fonte da imagem: FalaFil


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